Educação

Metade dos pais não confia na segurança sanitária de escolas públicas

Desmotivação preocupa e impacto negativo no ensino será inevitável, principalmente aos mais pobres

foto: ouroverdemais – A pandemia do coronavírus afetou diretamente toda a sociedade. Muitas empresas fecharam, famílias tiveram redução de renda. Nesse cenário caótico, com certeza o maior prejuízo fica com a educação. Há mais de um ano sem aulas presenciais, crianças, jovens e adultos estão sem aprendizado decente, e o futuro é incerto, principalmente com a inércia da administração pública (Federal, estadual e municipal) em resolver graves problemas na educação brasileira.

O cenário se agrava com os resultados da quinta edição da pesquisa Datafolha “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, realizada com 1.015 pais ou responsáveis de alunos das redes públicas municipais e estaduais do país, com idade entre 6 e 18 anos, no período de 16 de novembro a 2 de dezembro de 2020.

Quase metade (49%) dos pais de estudantes de escolas públicas municipais e estaduais não confia na capacidade da instituição de se adequar às normas de segurança sanitária para evitar o contágio da covid-19 no retorno às aulas presenciais. Apenas 19% disseram que “confiam muito” na capacidade da escola neste quesito e 31% “confiam um pouco”. Em setembro, o índice dos que não confiavam na segurança sanitária da escola era de 22%.

Em relação ao comportamento dos estudantes, 43% dos pais não confiam que os alunos cumprirão os protocolos de segurança – índice era de 24% em setembro.

Sem aula presencial, desmotivação aumenta entre os estudantes. (foto: Agência Brasil)

Tempo perdido e desmotivação

Sete em cada dez entrevistados (69%) acreditam que, se as escolas continuarem fechadas, as crianças dos anos iniciais do ensino fundamental terão um atraso em seu processo de alfabetização e prejuízo no aprendizado. Sobre as crianças da pré-escola, 65% acreditam que elas terão o seu desenvolvimento comprometido.

Em relação aos adolescentes, para 58% dos pais, a percepção é a de que tenham problemas emocionais por causa do isolamento. O mesmo percentual de pais (58%) acredita que os alunos do ensino médio correm o risco de desistir dos estudos.

Segundo a pesquisa, para os estudantes mais pobres, os prejuízos decorrentes da falta de aula presencial podem ser maiores do que a média, já que o acesso ao ensino remoto é desigual no Brasil. Para 80% dos pais e responsáveis, é muito provável que eles fiquem para trás por terem mais dificuldades de estudar em casa.

Além disso, 47% dos entrevistados dizem ter sofrido com a diminuição da renda familiar durante a pandemia.

Apoio das escolas

Para 79% dos entrevistados, as escolas deram apoio durante o período sem aulas presenciais, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental (87%). De acordo com o levantamento, o suporte consistiu principalmente em professores disponíveis para tirar dúvidas dos responsáveis, orientações gerais sobre como apoiar os estudantes para fazerem as atividades e sugestões para motivá-los a participar.

Na percepção dos pais, foram desenvolvidas habilidades como usar a tecnologia para estudar e aprender, não desistir diante das dificuldades e pesquisar e ampliar o conhecimento sozinho. No entanto, houve dificuldades dos estudantes para organizar as rotinas de estudo com autonomia, além de capacidade de adaptação e flexibilidade. O índice dos que percebem dificuldade em manter uma rotina das atividades em casa alcançou 69%. Nos anos iniciais do ensino fundamental, chega a 72%.

As entidades responsáveis pela pesquisa observaram um processo crescente de desmotivação entre os alunos desde maio de 2020, quando ocorreu a primeira edição da série de cinco pesquisas realizadas até agora. Em maio, 46% dos estudantes se diziam desmotivados. Em novembro, o percentual subiu para 55%.

As escolas de São Paulo registraram, neste início de ano, 741 casos confirmados de covid-19. A informação foi dada hoje (16) pelo secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, e engloba todas as redes de ensino, sejam privadas ou públicas (estaduais e municipais). Essas ocorrências, segundo o secretário, foram notificadas desde o início do ano, somando as observadas com o retorno das aulas presenciais, as aulas de reforço e recuperação e também o período de preparação das aulas.

As aulas presenciais tiveram início no dia 8 de fevereiro na rede estadual paulista, porém com baixa adesão, que conta com 3,3 milhões de alunos. Na rede privada, as escolas puderam reabrir a partir no dia 1º de fevereiro. Em Campinas, a volta às aulas na rede municipal está prevista para 1º de março.

Do dia 1º de janeiro a 13 de fevereiro, segundo levantamento feito pela Secretaria Estadual da Educação, o estado registrou 2.208 notificações de covid-19 nas escolas, com 741 casos confirmados, 334 descartados e, o restante, casos suspeitos, ainda em análise. 

“Na maioria das escolas foi um caso apenas que teve em cada escola. Isso é muito importante porque mostra que essa pessoa não pegou na escola. Pode ter pego em qualquer outro lugar”, disse o secretário.