O investimento mais tradicional para cumprir a função de proteção à inflação são os títulos públicos indexados ao IPCA
Por Diogo Santos*
fotos: Divulgação – Basta uma visita ao supermercado ou abastecer o carro, por exemplo, que constatamos que a inflação chegou de vez no Brasil. Na prática isso significa que compramos hoje menos produtos ou serviços que comprávamos num passado recente. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice que mede a inflação oficial no Brasil comprova isso, ele saltou de aproximadamente 4% ao ano para mais de 9% no valor acumulado dos últimos 12 meses.
É uma alta de mais de 100%. Como essa alta da inflação impacta seus investimentos?
De imediato podemos concluir que se você aplicou em setembro de 2020 e até agosto de 2021 teve um retorno abaixo de 9,68%, significa que teve uma perda do poder de compra, ou seja, sua aplicação não foi suficiente para acompanhar a alta da inflação.
Mas, a boa notícia é que existem opções no mercado financeiro para se proteger ou amenizar os efeitos negativos da inflação. Abaixo, falo um pouco sobre eles.
O investimento mais tradicional para cumprir a função de proteção à inflação são os títulos públicos indexados ao IPCA, como as NTN-Bs e o Tesouro IPCA. Ambos podem pagar juros semestrais, ou o valor investido mais os juros no vencimento do título.
Para termos uma ideia, hoje o Tesouro Direto IPCA com vencimento em 2026 paga uma taxa de IPCA+4,53%, isso significa um rendimento bruto de 14,65% nos últimos doze meses. Nada mau, não é? Calma, apenas esta informação não é determinante para escolher este título na hora de investir.
No exemplo acima, para o investidor ter de fato a taxa de IPCA+4,53% ele precisa carregar o título até o vencimento em 2026, caso contrário ele estará sujeito às oscilações de mercado e elas podem ser muito intensas. Portanto, essa não é uma boa opção para formar a reserva de emergência, por exemplo, ao mesmo tempo, se levado até o vencimento ela oferece 100% de proteção contra a inflação e ainda paga um prêmio de risco.
Outra opção disponível aos investidores são os CDBs, LCIs e LCAs indexados ao IPCA. Diferente do Tesouro IPCA e das NTN-Bs, os títulos bancários CDB, LCI e LCA geralmente não possuem liquidez, sendo possível o resgate apenas no vencimento do papel. Isso pode ser um problema caso necessite sacar o dinheiro imediatamente, mas se estiver alocado em uma parcela da sua carteira da qual não necessita de liquidez eles podem ser uma excelente alternativa pois, normalmente, pagam taxas maiores do que os títulos públicos, possuem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) até R$250.000,00 por instituição e por CPF e no caso das LCIs e LCAs ainda são isentas de IR.
Debêntures são títulos de créditos emitidos por empresas, é uma forma das empresas captarem dinheiro diretamente dos investidores ao invés de recorrer a um banco. Elas podem ser atreladas a diferentes indexadores, mas neste caso vamos nos ater a aquelas indexadas ao IPCA.
Estas, assim como CDB, LCI e LCA, normalmente não possuem liquidez, portanto, o investidor deve carregar o título até o vencimento. As debêntures não possuem garantia do FGC e por possuírem esse fator de risco adicional normalmente pagam taxas maiores do que às dos títulos bancários. Vale ressaltar que existem debêntures do tipo incentivadas, as quais são isentas de IR assim como as LCIs e LCAs.
Ao escolher uma debênture muitos fatores devem ser levados em consideração, como o momento da empresa, qual a destinação dos recursos, qual o cenário para o setor no qual a empresa está inserida, qual o rating desta companhia entre outros. Por isso, uma alternativa para os investidores acessarem o mercado de debêntures é fazê-lo via fundo de investimentos.
Falo um pouco sobre isso logo abaixo.
Sempre que optamos por investir em fundos, estamos delegando a gestão do recurso a especialistas, os quais, normalmente, possuem mais aptidão e informação para lidar com as variáveis de mercado. Neste caso, um fundo de inflação pode investir em diversos títulos, os quais visam proteger o capital do investidor de variações no IPCA, por exemplo. Mas é importante saber que apesar de terem liquidez este produto é para longo prazo, a fim de capturar as oscilações da inflação no decorrer do tempo uma vez que no curto prazo podem apresentar bastante volatilidade.
Por fim, mas não menos importante, podemos destacar os fundos imobiliários. Os fundos de tijolo, que alugam seus espaços para empresas ou pessoas geralmente possuem em suas cláusulas de aluguel algum tipo de correção monetária, geralmente IPCA ou IGP-M e este último acumula alta de 31,12% nos últimos 12 meses, por exemplo. Essa indexação tende a corrigir os dividendos pagos pelos FIIs ao longo do ano valorizando o capital investido.
Essa lógica também ocorre para muitos fundos de papel, mas é muito importante conhecer bem o tipo de fundo, quais são os ativos que compõem sua carteira e se ainda assim estiver inseguro é importante saber que caso ainda não possua o conhecimento necessário para analisar este produto é possível investir em fundos de fundos de FII, ou seja, em FIIs que investem em outros FIIs, assim o gestor faz essa análise por você e distribui o capital de acordo com sua estratégia.
Desequilíbrios macroeconômicos, como aumento da inflação, sempre são desafios para os investidores, sejam eles experientes ou não. Assim, conhecer as alternativas de investimentos como as apresentadas acima podem trazer enormes benefícios para seus investimentos.
*Diogo Santos é assessor de investimentos da iHUB, escritório credenciado à XP.